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Promotores em Destaque: Ricardo Silva (DWManagement)

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A era de ouro da música Portuguesa na década de 90, foi acompanhada por Ricardo Silva. São 20 anos de carreira, em que acompanhou de perto os altos e baixos da industria musical, desde o seu inicio de carreira até aos dias mais recentes. Com experiência consolidada no mercado, hoje divide-se entre diversas tarefas profissionais, desde talent Manager e Booking, é sócio e fundador da DWM Agency, onde tem descoberto e lançado novos talentos portugueses, com maior destaque centrado na musica electrónica. Foi responsável pelas direções artísticas em diversos festivais, eventos e clubes por todo o país.

É o novo convidado de ”Promotores em Destaque” e divide connosco a experiência adquirida, as mudanças mais significativas dentro da música e conselhos sábios de quem já conta com um longo caminho trilhado no meio musical, que ao longo das últimas duas décadas sofreu severas mudanças.

1. Como é que começaste no mundo das festas? Há quantos anos trabalhas com eventos e quais os que destacarias como mais importantes na tua carreira?

R: Já faz algum tempo… iniciei muito cedo quando tinha apenas 16 anos (1991) com uma discoteca móvel, onde tinhamos de andar com o material de som “às costas” e fazíamos eventos onde fosse possível. Foram os “anos de ouro” para quem estava no meio porque não havia praticamente nada e os artistas eram valorizados e os DJ´s eram muito poucos. Havia trabalho para toda a gente e todos recebiam bem. Destaco os primeiros eventos realizados nas praias e em campos de futebol. Era tudo mais “puro” onde quem ia, pagava para ouvir musica e não existia nada muito “tecnológico” em termos de luzes, espectáculo, os sistemas de som eram um pouco “arcaicos” mas as pessoas iam para ouvir boa musica.

2. Pensando numa linha do tempo, o que mudou na noite? Como era antes e como é hoje? O que destacarias de bom e de mau.

R: Esta pergunta vai um pouco de encontro ao que respondi anteriormente. Tudo mudou. Antigamente as pessoas não tinham acesso à Internet, a MTV não existia (ou não era emitida em Portugal), as radios não eram o que são hoje (havia imensas boas radios locais e até piratas) e a TV não tinha o poder de influenciar as “modas” que existem hoje. Tudo era mais “puro” e quando iam a um evento ou saíam à noite, esperavam poder ver e ouvir o que não tinham acesso em casa. Hoje em dia nada disto se passa. O trabalho de um DJ já não é o de um educador musical porque o que querem agora é ouvir os “hits”, as bandas não conseguem ter tantos veículos de promoção para poderem mostrar o seu trabalho e até o Hip Hop deixou de ser visto da mesma forma e deixou “as caves e as garagens” para tornar-se “musica mainstream”. Não consigo dizer se a mudança foi boa ou foi má mas consigo dizer que tudo ficou “banalizado” e a “mensagem musical” fica para segundo plano, dando lugar ao mediatismo e visibilidade que os artistas conseguem ter. A própria “noite” teve de adaptar-se à nova realidade e profissões como a de um RP passou a ser “ocupada” por dezenas de promotores que “convidam amigos e desconhecidos” para irem a um espaço ou evento e os verdadeiros Porteiros estão a desaparecer para dar lugar a “entrega cartões” porque foi retirado esse “poder de seleção de porta”. Os clubes são cada vez mais uma casa de espectáculos e sem clientes fidelizados. Como referi… Tudo mudou.

 

3. Como é a dinâmica em escolher o local, o artista e o publico alvo? Como é o teu processo de trabalho e quais os principais objectivos que desejas alcançar, sempre que inicias um novo evento?

R: Esta é uma pergunta complicada. Ao contrário do que muita gente pensa, para organizar ou promover um evento não basta arranjar um “spot” e contratar uns artistas mediáticos que “arrastem gente”. Temos demasiados eventos/festivais em Portugal e hoje em dia parece que virou moda ser “organizador de eventos”. Para um evento ser bem organizado e os riscos serem reduzidos ao máximo, tudo tem de ser encarado como um negócio novo que iremos abrir. Em primeiro lugar deve ser efectuado um Plano de Negócios e o SWOT. A seguir, verificar o nosso Breackeven real. Tudo isto envolve saber escolher o local, artistas, fee para promoção, condicionantes externas, avaliação real do target e qual o numero mínimo de pessoas teremos de ter para atingirmos o “Breack”, avaliação dos apoios e patrocinadores (que são cada vez mais raros), licenciamentos, higiene e segurança, seguros de trabalho, som, luz, camarins, palcos e estruturas, alojamentos, deslocações, sanitários (artistas e publico) etc. etc.

Tudo isto depende do evento e dimensão do mesmo mas as “regras gerais” são aplicadas em todos eles. Há eventos que demoram 1 ano a ser planeados e realizados para 2 ou 3 dias de evento. Faz-me muita confusão como é que existem mais de 100 festivais num País com 10 milhões de habitantes. Já nem quero falar dos milhares de eventos de pequena dimensão que existem todas as semanas e como é que os mesmos são autorizados (duvido muito que cumpram as regras legais, tenham licenciamentos ou até paguem os devidos impostos). Ao contrário do que muita gente pensa, o mercado paralelo não está a dar mais trabalho a ninguém e muito menos a dar trabalho aos artistas. O que está a fazer é a criação do “facilitismo” e a “não profissionalização” de quem os organiza. Relativamente aos artistas, apenas cava um fosso maior de cachets onde se pagam fortunas a uns e uns trocos a outros, bem como toda a “mão de obra” necessária e qualificada, passa a ser efectuada por “barmans” que só sabem tirar umas imperiais, os “copos” são servidos pela rapariga “com o maior decote”, os RP´s são meros “vendedores de pulseiras comissionistas”, o técnico de som é o “miúdo” que comprou um PA e o aluga por uns trocos, etc. etc. Com o mercado como está, onde a oferta é maior que a procura, onde toda a gente descobriu (ou pensa que descobriu) o novo negócio que o vai tornar rico, apenas posso fazer o que tenho feito… organizar 1 ou 2 eventos por ano e virar-me para o meu trabalho principal que é o management, agente artistico e caça talentos.

4. A internet facilitou a vida do promoter? Em que? Quais sao as tuas principais ferramentas de promoçao?

R: Sem duvida que a Internet veio ajudar imenso na promoção. O que antigamente era complicado, hoje em dia tornou-se mais fácil. Conseguimos chegar a informação ao publico alvo e a todo o País ou até mesmo Internacionalmente com custos muito inferiores. Antigamente os custos em material publicitário e fazer chegar o mesmo aos pontos geográficos pretendidos, era demasiado dispendioso. Seja como for, é um erro descurar as radios, televisão e até a publicidade estática (outdoors, cartazes, etc.). Tudo tem a sua importância. O importante é conseguir equilibrar e escolher as melhores formas de chegarmos ao publico alvo. Na Internet, além das redes sociais, é importante saber escolher quais as revistas, blogs ou sites que poderão ter o publico a que queremos chegar e efectuar promoção do nosso evento nesses veículos.

5. Existe o estereotipo que os grandes eventos só convidam artistas agenciados. Corresponde à verdade? Que tipo de influencia têm as agencias sobre o teu trabalho e os promotores em geral?

R: A realidade é que os grandes eventos escolhem os artistas que lhes dão mais garantias de retorno e em 99% dos casos, esses artistas são agenciados. Também eu, como agente, só proponho aos meus colegas e organizadores de eventos os artistas que eu tenho a certeza do seu valor e que não irão deixar-me ficar mal. Estamos a falar de profissionalismo e de investimento Vs retorno. É extremamente dificil um artista que não esteja agenciado, conseguir “entrar” ou ser convidado para um evento de grandes dimensões porque nem que não cobre cachet, o retorno que irá dar é pouco ou nenhum e ninguém faz nada de borla e estamos a falar de negócios.

6. Vou colocar-te a seguinte situação:

Tens em cima da mesa duas escolhas: um musico com talento, mas que ainda nao tem grande visibilidade nem views, e um artista que é agenciado, tem boa promoçao e views, mas no entanto o talento é inferior ao artista nao agenciado. Baseado nestes criterios, qual seria a tua escolha final?

R: Não é preciso pensar muito para responder. Claramente a 2ª opção. Como já referi, estamos a falar de negócios e nenhum investidor/organizador vai pensar duas vezes quando se coloca uma situação destas. As regras de mercado são simples. Se houver um musico com talento, alguma agência ou agente vai reparar nele e vai agenciar o mesmo. Para o artista (que acha que tem talento) ser agenciado, vai ter de investir nele para que os agentes ou agências possam reparar nele. Jamais alguma agência vai apostar em alguém que o seu trabalho não seja já reconhecido, que tenha uma boa quantidade de fãs e que o seu “produto” seja comercialmente aceite. Volto a referir… isto é um negócio e em qualquer negócio tem de haver um investimento para que haja alguém que o queira comprar ou investir nele (agentes/agências). Os artistas/musicos estão completamente errados quando pensam que alguém vai investir ou notar que eles existem sem terem feito chegar o seu “produto” a quem possa estar interessado. É uma lei do mercado extremamente básica mas que muita gente ainda não compreendeu.

7. Existe alguma preocupaçao da tua parte em estar a par do que sai de novo, ouvir e avaliar um trabalho, e dar oportunidades a novos artistas? Quanto tempo em média gastas a ouvir e pesquisar coisas recentes?

R: Impossível. Em primeiro lugar porque actualmente, só em musica electrónica, saem mais de 200 temas novos todos os dias (mais de 70.000 por ano). Se a isso acrescentarmos todos os outros géneros musicais, as 24h00 do dia não chegaria para ouvir o que sai de novo e como estou dentro do mercado, sei como fazer um tema chegar ao TOP e ir ouvir os temas que estão actualmente nos TOPs, não significa nada para mim. A minha preocupação é em ver/ouvir algo que surja e que tenha algum “buzz” junto das pessoas ligadas ao meio porque é sinal que pode vir a ser boa aposta. Se é verdade que devo ser dos poucos agentes/managers a dar oportunidades a novos artistas ou projectos, também é verdade que só as dou a quem atinge um determinado patamar, que eu tenha visto actuar ou que a nível musical seja completamente diferente do que existe no mercado. A explicação está na resposta anterior. Não podem esperar que um agente/manager faça um investimento em algo que não tenha algumas garantias de retorno. Como já referi, isto é trabalho e negócio e não sou (somos) o Instituto de emprego nem o Centro de Oportunidades. Quem quer oportunidades, tem de trabalhar e investir no seu trabalho.

8. Para finalizar, quais os conselhos que deixas para quem se está a iniciar nesta área. O tipo de erros que nao devem cometer e os altos e baixos que podem encontrar pelo caminho.

R: Em primeiro lugar, deve definir muito bem os motivos que o levam a entrar no mercado e encarar esta área como outro ramo de negócio qualquer. Quem entrar com o pensamento de “fama” ou “protagonismo”, o meu conselho é que entre para um Reality Show e não para este mercado (isto é aplicável a artistas/musicos e organizadores/promotores de eventos). Aquilo a que muitos chamam de Lobbys, não é mais do que experiência e contactos adquiridos. Será que se pode chamar de Lobby porque o organizador do eventos dá preferência aos artistas de uma agência ou agente que conhece, trabalha e lhe dá retorno financeiro?

Será que se pode chamar Lobby se as radios e TV dão “Air Play” aos artistas que são mais mediáticos que conseguem atrair mais publico?  Não é um mercado fácil de entrar e muito menos de se trabalhar. Os Lobbys não são mais do que dinheiro e isto é um negócio. Não existem “jantares de borla” neste negócio ou em qualquer outro. Ninguém vai dar oportunidades a ninguém, a não ser que haja retorno ou perspectivas disso. Estão enganados se pensam que conseguem entrar num mercado saturado, onde existem pessoas no ramo com décadas de experiência e conhecimentos. Toda a gente começa por baixo. No meu caso, estou à 20 anos no mercado e não sei tudo, todos os dias estou a aprender e tenho muita gente acima de mim que tenho de respeitar e vou subindo a pulso com muito trabalho, investimento e muitas quedas (que servem para aprender).

Não há caminhos certos ou errados, caminhos fáceis e ninguém que te ensine tudo e invista o seu tempo e dinheiro por ti. Relativamente aos musicos/artistas apenas posso dizer o que já mencionei. Invistam no seu produto, na sua imagem e no seu trabalho. Não procurem um agente/agência porque ninguém vai apostar em vocês. Se realmente forem um “produto apetecível” não tenham duvidas que um agente ou agência fará tudo para “ficar com vocês”. O maior conselho que posso dar é o de pensarem comercialmente sobre a vossa musica e actuação (seja ela que estilo for). Tudo o que não seja “vendável” não é “apetecível”. Se estão a pensar na musica como “arte” então não pensem em envolver dinheiro, nem pensem em grande porque a arte vale o que alguém paga por ela (e pode ser que ninguém a queira comprar).

Quero agradecer ao site ”Hip-Hop Sou Eu” e a todos os seus leitores. Espero poder ter contribuído para alguma coisa com a minha entrevista (apesar de ter palavras um pouco “duras” mas sinceras).

Acompanhem mais em www.facebook.com/DWManagement 

 


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